Ao lado de Bottas e Leclerc, Lando Norris celebra o 3º lugar no GP da Áustria de 2020, em Spielberg
Por Denise Vilche*
Colaboradora
“Estou muito feliz!”. Assim, um extasiado Lando Norris (McLaren) descreveu a sensação de conquistar um histórico terceiro lugar no GP da Áustria de 2020, realizado no dia 5 de julho, em Spielberg. O britânico estava feliz não só pela equipe, que trabalhou duro para progredir durantes os últimos anos, mas também com ele mesmo. No pódio austríaco, estava um piloto bem diferente daquele que havia feito sua temporada de estreia na Fórmula 1 em 2019. Chegando no final daquele ano, ao ser perguntado se estava feliz com o que tinha conquistado até o momento, Norris fez uma longa pausa e, hesitante, respondeu que “não muito”. Para o jovem piloto, havia muito o que melhorar para 2020, principalmente em fazer valer suas vontades na hora do acerto do carro e de ser mais agressivo contra seus adversários. Se esses eram os pontos a melhorar, o inglês mostrou que fez bem sua lição de casa na etapa austríaca.
Não só o britânico chegou ao circuito de Spielberg mais confiante, como também não deixou se intimidar pelos adversários. Lando batalhou duro contra Sergio Perez (Racing Point), travou uma árdua disputa contra seu próprio companheiro de equipe, Carlos Sainz Jr. (McLaren), e duelou no cronômetro com ninguém menos do que Lewis Hamilton (Mercedes) para cruzar a linha de chegada e assegurar seu primeiro pódio na Fórmula 1, se tornando o 40º piloto britânico a conseguir o feito na categoria máxima do automobilismo.
Norris, à frente de Sainz: comparação inevitável após boa temporada de 2019 do espanhol
Norris chegava em Spielberg tendo que lutar contra as comparações entre
ele e seu parceiro de McLaren. Em 2019, o inglês terminou a temporada em 11º lugar, com 49 pontos, 47 pontos atrás de Sainz, que anotou 96 pontos e encerrou o ano num excelente sexto lugar. Enquanto os melhores resultados de Lando foram dois sextos lugares – nos GPs do Bahrein, em Sakhir, e da Áustria, em Spielberg -, Carlos conseguiu o quinto lugar em três oportunidades – nos GPs da Alemanha, em Hockenheim, da Hungria, em Hungaroring, e do Japão, em Suzuka. Além disso, o espanhol coroou sua temporada ao conquistar seu primeiro pódio na F1 no GP do Brasil, em Interlagos. Os ótimos resultados de Sainz surtiram efeito ainda antes do início da temporada de 2020 – o madrileno foi anunciado como o novo piloto da Ferrari para 2021, no lugar do alemão Sebastian Vettel.
A transferência para a Scuderia só fez aumentar as comparações entre Carlos e Lando. E isso pôde ser percebido em Spielberg. Na sexta-feira, logo no primeiro treino livre, a McLaren mostrou bom desempenho, com Sainz terminando em quarto, com 1m05s431, e Norris em sexto, com 1m05s512. As Mercedes, com uma pintura preta em sua campanha contra a discriminação e o racismo, começaram dominando as ações, com Lewis Hamilton marcando o melhor tempo, com 1m04s816, seguido de Valtteri Bottas, com 1m05s172. Já a Ferrari, que despontou como principal rival da equipe alemã nos últimos anos, deixou uma má impressão na sessão: Charles Leclerc anotou um tímido 10º tempo, e Sebastian Vettel foi apenas o 12º.
Lando mostrou velocidade no circuito de Spielberg: sempre entre os 10 primeiros nos treinos
No segundo treino livre, Lando voltou a anotar o sexto tempo, com 1m05s087. Desta vez, o britânico ficou à frente de Carlos na disputa interna da McLaren – o espanhol ficou com o 10º tempo (1m05s352). Já os dois carros da Mercedes novamente ficaram na frente. E novamente Hamilton bateu Bottas – o inglês fez 1m04s304, contra 1m04s501 do finlandês. A Racing Point, que fez uma boa pré-temporada em Montmeló, em fevereiro, mostrou o seu potencial – Sergio Pérez ficou em terceiro, e Lance Stroll se colocou em sétimo.
No sábado, dia do qualifying, a expectativa era que a McLaren colocasse seus carros no top 10 de Spielberg. Com esse pensamento, Norris e Sainz ingressaram na classificação. E a dupla cumpriu com a missão: tanto Lando como Carlos avançaram para o Q3 na Áustria. Na sessão decisiva, o britânico da McLaren fez uma excelente volta, anotando 1m03s626, conquistando o quarto tempo. Foi a melhor sessão qualificatória do piloto de 20 anos desde a sua estreia na F1. A titulo de comparação, Sainz ficou em oitavo, com 1m03s971 – 0s345 atrás do companheiro do time laranja. À frente de Norris, somente Max Verstappen (Red Bull) e a dupla da Mercedes – Bottas conquistou sua 12ª pole position, com 1m02s939, apenas 0s012 à frente de Hamilton, segundo com 1m02s951.
Norris deu show no qualifying: terceiro lugar no grid veio após punição dada a Hamilton
“Tudo o que aconteceu (no qualifying) nos deixou um pouco surpresos, o que faz tudo ser melhor, de alguma forma. Nós não estávamos focando em ficar no top 5 ou top 6, então eu acho que isso é algo que faz tudo ficar ainda melhor. Eu estou muito feliz por todos nós e por toda a equipe, por começar a temporada assim e ainda sendo também minha melhor posição em classificação”, declarou o britânico após a classificação. Ele ainda se mostrou
cauteloso com o resultado do treino, já que Ferrari e Racing Point teriam um melhor
ritmo de corrida do que a McLaren.
O piloto da McLaren ainda poderia herdar uma posição no grid, já que os comissários
passaram a investigar Hamilton por ter ultrapassado os limites da pista em sua primeira volta lançada no Q3 e por não ter respeitado um trecho em bandeira amarela em sua segunda volta lançada. A primeira volta de Lewis acabou sendo deletada. Quanto à segunda saída, o hexacampeão acabou sendo absolvido pela FIA devido a informações
conflitantes dos fiscais. Porém, já domingo, faltando 1h30 para a largada do GP da Áustria, a Red Bull entrou com pedido de revisão da investigação sobre Hamilton, alegando ter provas de que o piloto da Mercedes teria visto a bandeira amarela. Os comissários voltaram atrás e acabaram punindo Lewis com a perda de três posições no grid – o hexacampeão largaria em quinto, promovendo Verstappen para o segundo lugar e Norris para o terceiro.
Largada do GP da Áustria de 2020: Norris atacou Verstappen, mas se manteve em terceiro
A corrida
Domingo, 5 de julho de 2020. Após 217 dias de espera, a Fórmula 1 enfim voltava a promover uma corrida – antes do GP da Áustria, em Spielberg, a prova anterior havia sido o GP de Abu Dhabi de 2019, em Yas Marina. Por conta da pandemia do novo coronavírus, a categoria máxima do automobilismo se viu obrigada a cancelar e adiar etapas de seu calendário original. Assim, um calendário foi feito às pressas para acomodar as oito primeiras provas do ano. Pela primeira vez, uma etapa de abertura de um Mundial aconteceria em julho. E, também, em solo austríaco. Um novo protocolo foi instituído pela Fórmula 1 e pela FIA. Para evitar a disseminação da Covid-19, não haveria presença de público nas arquibancadas, assim como acabou sendo restringido o acesso dos envolvidos no ‘circo’ – de 8 mil profissionais, entre membros das equipes, fiscais de pista e jornalistas, para aproximadamente 2 mil. O ‘novo normal’ previa testes periódicos, máscaras e distanciamento social, entre outras medidas.’
Em Spielberg, uma outra cena também chamaria a atenção. Ainda antes da corrida, os 20 pilotos se juntaram em protesto contra o racismo. Vestindo camisetas com os dizeres “End Racism” (“Fim do Racismo”, em português), fizeram um minuto de silêncio na pista. A maioria dos pilotos acabou se ajoelhando no grid em sinal de apoio ao movimento “Black Lives Matter” (“Vidas Negras Importam”, em português). Depois desse momento de mobilização, chegava a hora de partir para a disputa. Para a aguardada abertura do Mundial de 2020.
Norris, à frente de Albon e Hamilton: britânico da McLaren não resistiu ao poderio dos rivais
Em sua melhor posição de largada desde a sua estreia na Fórmula 1, Lando Norris (McLaren) queria mostrar sua capacidade para aqueles que acompanhariam a corrida de casa. Quando as luzes vermelhas se apagaram, o britânico tentou ultrapassar Max Verstappen (Red Bull), o segundo no grid, mas um problema na troca de marchas o fez perder o duelo. Mesmo assim, Norris se manteve em terceiro, atrás somente do holandês e do pole Valtteri Bottas (Mercedes).
Na terceira volta, Alexander Albon (Red Bull) ultrapassou Norris, fazendo o inglês cair para a quarta posição. Na passagem seguinte, foi a vez de Lewis Hamilton (Mercedes) superar o piloto da McLaren, que caiu para a quinta colocação. Na volta 11, Verstappen abandonou após problemas eletrônicos em seu Red Bull. Dessa forma, Lando recuperou a quarta colocação, atrás de Bottas, Hamilton e Albon.
Estratégia foi fundamental para manter Norris entre os primeiros na etapa austríaca
As posições principais seguiram inalteradas até a volta 27, quando o safety car foi acionado para retirar o carro de Kevin Magnussen (Haas) – o dinamarquês sofreu com uma falha nos freios, problema que se repetiu durante todo o fim de semana. Com a bandeira amarela, os pilotos aproveitaram para fazer suas primeiras paradas. Na saída dos boxes, Norris e Sergio Pérez (Racing Point) quase se tocaram, mas o inglês da McLaren conseguiu se manter à frente do mexicano. Na estratégia, todos os pilotos optaram pelos pneus duros, com exceção de Pérez, resolveu colocar pneus médios, o que daria uma vantagem para o latino da Racing Point no recomeço da corrida.
A relargada ocorreu na volta 31, com Bottas mantendo a liderança, seguido de
Hamilton, Albon, Norris e Pérez. Carlos Sainz Jr. (McLaren), que vinha em sétimo, tentou ultrapassar Charles Leclerc (Ferrari), o sexto. Atrás dos dois, estava Sebastian Vettel (Ferrari), que tentou se aproveitar do embate para fazer uma ultrapassagem. A manobra não deu certo e o alemão acabou rodando, caindo para a 15ª colocação. Duas voltas depois, Pérez, com pneus mais aderentes, ultrapassou Norris, que caiu para o quinto lugar. À frente deles, as Mercedes seguiam inalcançáveis, com Bottas em primeiro e Hamilton em segundo, seguidas por Albon, o terceiro colocado.
Norris forçou o ritmo na fase final da corrida: esforço recompensado
O panorama voltaria a mudar por conta de uma nova entrada do safety car na volta 51, em razão do abandono de George Russell (Williams). Dos seis primeiros, apenas Albon, Norris e Leclerc aproveitaram a bandeira amarela para realizar um novo pit stop – Bottas, Hamilton e Pérez seguiram na pista. Com isso, Albon, em quarto e com pneus macios, poderia ameaçar Checo pelo terceiro lugar. Em quinto, Norris também apostava no desgaste dos pneus da Racing Point do mexicano para ascender na classificação.
A corrida recomeçou na volta 55, mas foi interrompida poucos segundos depois: a Alfa Romeo de Kimi Raikkonen perdeu subitamente a roda dianteira direita e parou na reta de chegada. Antes da entrada do carro de segurança, Albon tentava ultrapassar Perez e Sainz passava por Esteban Ocon (Renault). Os comissários decidiram que o anglo-tailandês da Red Bull estava à frente do mexicano da Racing Point no momento do acionamento do safety car, e Checo foi obrigado a ceder o terceiro lugar para Alex. O mesmo não aconteceu com Sainz, que teve que devolver a posição para Ocon.
Lando lutou contra o cronômetro para derrotar Hamilton: pódio e volta mais rápida em Spielberg
A nova relargada ocorreu na volta 60. Com pneus mais novos, Albon partiu para cima de Hamilton, que só tinha trocado pneus durante a primeira entrada do safety car. Na disputa, que valia o segundo lugar da etapa austríaca, os dois pilotos acabaram se tocando e Albon caiu para a última colocação. Assim, Pérez recuperou o terceiro lugar e Norris retomou a quarta posição.
Na volta 64, a sete para o fim, Bottas se mantinha na liderança do GP da Áustria, com mais de 2 segundos de vantagem para Hamilton. Nessa passagem, Norris acabou sendo ultrapassado por Leclerc, que assumiu a quarta posição. Além disso, Lando passou a ser
ameaçado por Sainz, que teve algumas boas oportunidades de ultrapassagem. Entretanto, o inglês controlou o ímpeto do espanhol. Na 66, Leclerc superou Pérez, assumindo a terceira posição.
Lando não conteve a alegria após a conquista do pódio em Spielberg
Naquele momento, duas punições fariam Norris entrar na disputa de um inesperado pódio: Perez foi punido com 5 segundos de acréscimo ao seu tempo final de corrida por ter ultrapassado o limite de velocidade no pit lane. A mesma punição foi dada à Hamilton, considerado culpado pelo acidente com Albon. Sem saber da punição aplicada ao piloto da
Mercedes, Norris arriscou e ultrapassou Pérez, assumindo o quarto lugar. Pouco depois, foi a vez de Sainz passar pelo mexicano, que viu seu ritmo cair após o desgaste dos seus pneus.
Nas voltas finais, a disputa se concentrava no cronômetro. Segundo na pista, Hamilton tinha ciência de que perderia a posição para Leclerc. Entretanto, ainda se mantinha em terceiro. Porém, seu ritmo caiu. Era a chance que Lando tanto buscava. Na penúltima volta, a diferença entre Norris e Hamilton era de 6s5. Na abertura da 71ª e última volta, o piloto da McLaren conseguiu diminuir para 5s6, o que ainda o deixaria com o quarto lugar. Na frente, Bottas liderava com folga e cruzou a linha de chegada para vencer o GP da Áustria. Foi a oitava vitória da carreira do finlandês, a primeira liderando de ponta a ponta. Leclerc acabou ficando em segundo. Restava apenas saber quem completaria o pódio. E Lando, em uma volta perfeita (1m07s475), baixou a diferença entre ele e o hexacampeão para 4s802. Foi a melhor volta do GP da Áustria – a primeira volta mais rápida de sua carreira. Graças a ela, Norris se tornou o 212º piloto a subir no pódio na F1.
Norris se tornou o terceiro mais jovem a subir em um pódio na Fórmula 1
“Eu estou sem palavras. Em alguns momentos durante a corrida, eu pensei que tinha arruinado tudo, eu caí para o quinto lugar faltando algumas voltas para o fim, com o Carlos (Sainz) quase me ultrapassando. Mas eu não desisti, consegui passar o (Sergio) Pérez e acabei no pódio. Eu estou muito feliz e estou orgulhoso da equipe. Comparando onde estávamos alguns anos atrás com o ano passado e agora, eu acredito que é uma conquista muito legal e eu estou orgulhoso de fazer dela”, declarou o britânico após a corrida.
Com 20 anos, 7 meses e 22 dias, Lando se tornou o terceiro piloto mais jovem a conseguir um pódio na Fórmula 1, atrás de Verstappen (o mais jovem, com 18 anos, 7 meses e 15 dias, quando conseguiu sua primeira vitória no GP da Espanha de 2016, em Montmeló) e Stroll (18 anos, 7 meses e 27 dias, quando obteve o terceiro lugar no GP do Azerbaijão de 2017, em Baku). Além disso, tirou de Hamilton o posto de mais jovem piloto britânico a subir no pódio na categoria (tinha 22 anos, 2 meses e 11 dias quando foi terceiro no GP da Austrália de 2007, em Melbourne).
Sainz retribuiu o gesto de Norris após seu pódio em Interlagos-2019: dupla em sintonia
* Sobre Denise Vilche: “Formada em jornalismo, vi a oportunidade perfeita de unir minha formação com a minha paixão pela F1. Conhecida por meus colegas como ‘a que gosta de corridas’, escrevi sobre automobilismo durante três anos para o extinto site ‘Canal da Velocidade’”.
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(Texto com supervisão do Contos da Fórmula 1)