Que Ayrton Senna da Silva era um piloto talentoso, a Fórmula 1 não duvidava. Afinal, acompanhava atentamente suas exibições nas categorias de acesso. Entretanto, ao estrear em 1984, a bordo de um Toleman, alguns passaram a questionar isso. A resposta do brasileiro, porém, viria na pista. Logo em sua segunda corrida na carreira, no GP da África do Sul, em Kyalami, obteve seu primeiro ponto ao ficar em sexto. Quatro provas mais tarde, deu um show à parte no GP de Mônaco, quando assegurou o segundo lugar depois da prova ser interrompida em razão da tempestade que caía sobre o Principado. Porém, precisava provar de fato sua capacidade. Afinal, o pódio na etapa monegasca veio – literalmente – do céu.
Depois de Mônaco, o campeonato teve três etapas na América do Norte. Todavia, Senna não pontuou em nenhuma das provas – terminou em sétimo no GP do Canadá, em Montreal, e abandonou o GP dos Estados Unidos-Leste, em Detroit, e o GP dos Estados Unidos, em Dallas. Após a perna no continente americano, o ‘circo’ retornou à Europa. Para Ayrton, os ares do Velho Mundo seriam renovadores para a Toleman. E realmente foram. Com méritos, o brasileiro conquistou o terceiro lugar no GP da Inglaterra, em Brands Hatch. Em 22 de julho de 1984, Ayrton mostrou definitivamente ao que veio na F1. Não houve chuva, nem qualquer outro benefício, que colocasse Senna no pódio. O troféu foi consequência de seu empenho, premiando um campeão em construção.
Antes dos carros ingressarem no circuito de Brands Hatch, a FISA anunciou a uma severa punição contra a Tyrrell. Por inserir esferas de chumbo nos reservatórios de água do modelo 012, a fim de encobrir um peso abaixo do permitido, a escuderia de Ken Tyrrell perdeu todos os pontos obtidos no campeonato até então. Além disso, os resultados conquistados por Stefan Bellof e Martin Brundle não seriam computados na classificação. O time, porém, entrou com um recurso, garantindo sua participação na disputa. Com a perda dos resultados da Tyrrell, Ayrton acabou ganhando um ponto, ao herdar o sexto lugar no GP da Bélgica, em Zolder. Dessa forma, Senna passava a ter cinco pontos em nove corridas. Um saldo satisfatório, em se tratando de um piloto estreante.
Porém, o pontinho obtido no tapetão não chegou a ser celebrado pela Toleman. Pelo contrário: a etapa inglesa, a 10ª do Mundial, acabou sendo um teste emocional para o piloto e sua equipe. Na sexta-feira de treinos, um forte acidente fez com que o companheiro de Ayrton, Johnny Cecotto, quebrasse as pernas. O clima ficou tenso nos boxes da escuderia. O TG184 passou a ter sua segurança contestada. Ainda assim, o brasileiro foi para a pista. No sábado, notou que o bólido havia se adaptado bem ao veloz e traiçoeiro circuito britânico. No fim do treino, estabeleceu a sétima marca, com 1m11s890. O tempo de Senna foi 1s021 inferior ao estabelecido por Nelson Piquet (Brabham), pole com 1m10s869.
A corrida
Convencido de que poderia retornar à zona de pontuação, Ayrton alinhou no grid de Brands Hatch determinado a cumprir com seu objetivo. Na largada, porém, o brasileiro foi superado por Nigel Mansell (Lotus) e por Michele Alboreto (Ferrari), caindo para o nono lugar. Mesmo saindo mal, o piloto da Toleman ficou bem afastado do forte acidente protagonizado por Riccardo Patrese (Alfa Romeo), Jo Gartner (Osella), Philippe Alliot (RAM) e Eddie Cheever (Alfa Romeo), na Graham Hill Bend. Apesar da confusão, a corrida continuou normalmente. A fim de não perder contato com os adversários, Senna superou Mansell na volta 2. Duas voltas depois, foi a vez de ultrapassar Alboreto, para recuperar o sétimo lugar.
Na volta 5, um problema de motor tirou Keke Rosberg (Williams) da corrida. Dessa forma, Ayrton assumiu a sexta posição. Ali permaneceu até a volta 11, quando Jonathan Palmer (RAM) sofreu um forte acidente. Os destroços do carro do inglês ficaram pela pista, e a direção de prova resolveu interromper a disputa. Após a limpeza, os carros voltaram para o grid, respeitando as posições vigentes até aquele momento. Na nova largada, Senna voltou a patinar, sendo superado por Alboreto e Patrick Tambay (Renault). Na volta 13, o brasileiro da Toleman ultrapassou Michele, retomando o sétimo lugar.
A partir dali, Ayrton tentava acompanhar Patrick, mas a Renault era superior à Toleman. Para recuperar uma posição no top 6, torcer contra os rivais passou a ser necessário. Na volta 34, Tambay perdeu rendimento, e Senna assumiu o sexto lugar. Quatro voltas depois, Alain Prost (McLaren), líder em Brands Hatch, abandonou com problemas na caixa de câmbio. Com isso, Ayrton foi para quinto. À frente do piloto da Toleman, estavam Niki Lauda (McLaren), Nelson Piquet (Brabham), Derek Warwick (Renault) e Elio de Angelis (Lotus). O brasileiro parecia se conformar com um lugar entre os cinco primeiros, quando, a seis voltas do fim, a sorte sorriu para ele.
Quarto colocado, De Angelis passou a se arrastar na pista. Senna se aproveitou da queda de ritmo do italiano para superá-lo na volta 65. Na passagem seguinte, Piquet enfrentou problemas no turbo do motor BMW de seu Brabham, e viu seu desempenho cair vertiginosamente. Na volta 67, Ayrton superou o compatriota e assumiu a terceira colocação. Depois disso, foi só levar o Toleman com carinho por mais quatro voltas e receber a bandeira quadriculada.
A vitória ficou com Lauda, seguido por Warwick. Já o pódio de Senna amenizou o clima em seu time, que estava preocupado com Cecotto, e serviu de resposta para aqueles que desconfiavam do seu potencial. Ayrton não queria ser tratado como um garoto com sorte, mas sim como um piloto vencedor. Depois do grande feito de Brands Hatch, o mundo reconhecia: era o brasileiro que levava a Toleman nas costas.
Para muitos esta foi a melhor atuação de Senna em 1984, porque era uma pista de alta velocidade onde a pouca potência dos motores Hart foram altamente prejudiciais. Ai deu para ver que tinham 2 gênios na pista Senna e Rory Byrne.
É um conto mesmo. Não lembro de alguém ter posto em dúvida o desempenho ou o talento de Senna ao entrar na F1. Pelo contrário, todos os especialistas apostavam em um futuro brilhante para ele. Até se impressionaram com o que ele vinha fazendo com um carro com as limitações do Toleman.
Além disso, no artigo tratam da chuva como um elemento que o beneficiaria, não levando em conta que o piso molhado dificulta as coisas para todos, mas é em condições adversas que os verdadeiros talentos se destacam. Em Mônaco o reconheceram como um futuro campeão. Quem ouviu os comentários de James Hunt naquela corrida sabe disso.