Inglaterra-1981: Borgudd, da bateria do ABBA ao sexto lugar

Com o apoio do grupo ABBA no seu ATS, Slim Borgudd fez bonito em Silverstone

Com o apoio do grupo ABBA no seu ATS, Slim Borgudd fez bonito em Silverstone

O automobilismo sueco promoveu diversos valores à Fórmula 1 nos anos 1970. Jo Bonnier, Ronnie Peterson, Reine Wisell e Gunnar Nilsson foram alguns dos principais vértices das pistas que nasceram no país escandinavo. Inspirado neles, um baterista partiu para o mundo do esporte a motor. Sim, você entendeu bem: baterista. Seu nome? Karl Edward Tommy Borgudd, ou simplesmente Slim – alcunha dada na época musical. O apelido foi mantido quando Borgudd se aventurou no mundo automobilístico. O ponto alto da outra carreira de Slim aconteceu em 18 de julho de 1981, quando o sueco, a bordo de um ATS, obteve o sexto lugar no GP da Inglaterra, disputado em Silverstone.

Para entender como Slim Borgudd desembarcou na categoria máxima do automobilismo, é necessário ingressar no mundo musical. De acordo com o site Motorpasión, Borgudd se tornou ‘Slim’ inspirado no célebre Memphis Slim, a quem substituiu durante um show de jazz em Nova Orleans (EUA), em 1964. A carreira artística prosseguiu de forma ascendente. Slim ingressou na banda Lea Riders Group. Depois, passou pela Made in Sweden e pela Solar Plexus. Além disso, era sempre convidado para gravar em estúdio com o ABBA – sim, o célebre grupo sueco mundialmente conhecido pelos idos dos anos 1970 e 1980. Isso ocorreu por conta da amizade com Björn Ulvaeus, um dos integrantes da banda.

Slim Borgudd (ao centro) era baterista do Made in Sweden no final dos anos 1960: inspiração nos Beatles

Slim Borgudd (ao centro) era baterista do Made in Sweden

Longe dos palcos e das gravações, Borgudd tinha uma outra paixão: a velocidade. Slim pilotou por várias categorias regionais. Foi quando ele levou a arte da pilotagem como prioridade em sua vida. Sagrou-se campeão do Campeonato Escandinavo de Fórmula Ford 1600 (1973) e da Fórmula 3 Sueca (1979). Após o título da F3, correu na Fórmula 2, mas sem sucesso. Terminada a temporada de 1980, o passo natural era a Fórmula 1. O piloto/baterista tinha 34 anos na ocasião. Apesar da idade avançada para ingressar na F1, o sonho falou mais alto. O sueco passou a correr atrás de patrocinadores para apoiar a empreitada.

A ATS surgiu como interessada em Borgudd para a temporada de 1981. O piloto tinha um acerto com a American Reynolds Tobacco Company, que iria expor a marca de cigarros Camel no carro. Todavia, a empresa desistiu do apoio, e a presença de Slim passou a ser incerta. Ao ver o amigo em dificuldades, Björn Ulvaleus – sim, o do ABBA – fez valer sua fama e inseriu a marca da banda no carro da ATS. O intuito era atrair patrocinadores para o carro. Com o ABBA no chassi, Borgudd realizou sua estreia na Fórmula 1 no GP de San Marino, quarta etapa do Mundial. Largou em 24º e último; completou em 13º e último.

Bjorn U, do ABBA, foi o grande incentivador de Slim na Fórmula 1

Björn Ulvaleus, do ABBA, foi o grande incentivador de Slim na Fórmula 1

Borgudd chegou a Silverstone depois de não se classificar por quatro corridas consecutivas – Bélgica, Mônaco, Espanha e França. O carro da ATS era péssimo. Classificar o HGS1 para o GP da Inglaterra era o principal objetivo do sueco. Pelo lugar no grid, Slim teve que travar uma luta ferrenha com Elio de Angelis e Nigel Mansell, ambos da Lotus; Michele Alboreto e Eddie Cheever, a dupla da Tyrrell; e Chico Serra, da Fittipaldi, entre outros. O nórdico encaixou uma volta de 1m15s959. Ele ficou 4s959 atrás do pole René Arnoux (Renault), mas assegurou a 21ª posição no treino oficial.

O feito de Slim foi celebrado, uma vez que o limite era 24 carros para a corrida. O piloto/baterista ficou logo à frente de De Angelis, o 22º. Mansell e Serra sequer se classificaram, o que deu valor ainda maior à façanha do sueco. Empolgado por largar no veloz circuito de Silverstone, Borgudd partiu com o objetivo de ver novamente a bandeira quadriculada. Pontuar? Ilusão, decerto. Ainda mais após a largada.

Borgudd contou com os abandonos dos rivais para chegar ao top 6

Borgudd contou com os abandonos dos rivais para chegar ao top 6

Mesmo com os abandonos de Alboreto e Siegfried Stohr (Arrows), Slim seguiu na 21ª colocação depois da volta 1. Na volta 2, Derek Daly (March) ficou para trás, e o sueco foi para 20º. Na volta 4, Andrea de Cesaris (McLaren) e Alan Jones (Williams) acabaram sendo vítimas de um erro de Gilles Villeneuve (Ferrari). Os três abandonaram a corrida, beneficiando o piloto da ATS. Na volta 6, o Borgudd superou Jean-Pierre Jarier (Osella) e assumiu a 15ª posição.

A ascensão de Slim graças aos infortúnios dos rivais prosseguiu na volta 11. Patrick Tambay (Ligier) enfrentou problemas e caiu na classificação, fazendo o sueco subir para o 14º lugar. Na passagem seguinte, um acidente tirou Nelson Piquet (Brabham) da corrida, levando Borgudd para a 13ª posição. Na volta 14, um problema de motor tirou Didier Pironi (Ferrari) do GP. Com isso, o piloto da ATS estava em 12º. Na volta 19, Slim venceu o duelo escandinavo contra o finlandês Keke Rosberg (Fittipaldi) e alcançou o 11º posto.

O sueco resistiu na pista, apesar do péssimo carro da ATS

O sueco resistiu na pista, apesar do péssimo carro da ATS

A partir daquele instante, o GP da Inglaterra passou a ser uma prova de resistência para Borgudd. O sueco só assumiu o 10º lugar na volta 25, após a desclassificação de De Angelis, que ignorou durante 10 voltas as bandeiras amarelas pelo circuito. Naquela posição, Slim permaneceria por longas 25 voltas. Quando nada parecia mudar, Hector Rebaque (Brabham) despencou na classificação, fazendo o piloto da ATS assumir o nono posto.

Na volta 60, um problema de suspensão tirou Mario Andretti (Alfa Romeo) da prova. Borgudd era o oitavo. Na passagem seguinte, o sueco foi superado por Rebaque, graças, sobretudo, ao carro superior que o mexicano possuía. Na 62, o piloto da ATS retornou ao oitavo posto por conta do abandono de Marc Surer (Theodore) por pane seca. Faltavam ainda seis voltas para a bandeira quadriculada. Dois carros separavam Slim da zona de pontos. Como chegar ao top 6? Só rezando e batendo o bumbo – nada de bateria.

Os abandonos de Arnoux e Patrese deram o 6º lugar a Slim

Os abandonos de Arnoux e Patrese deram o 6º lugar a Slim

E não é que a estrela de Borgudd brilharia intensamente na volta 64? Naquela passagem, Arnoux, então líder da prova, abandonaria o GP por quebra de motor. Poucos segundos depois, Riccardo Patrese (Arrows) sofreria do mesmo mal e deixaria a prova. Pronto. Slim era sexto. A vitória do GP da Inglaterra ficou com John Watson (McLaren), seguido por Carlos Reutemann (Williams), Jacques Laffite (Ligier), Eddie Cheever (Tyrrell) e Rebaque. Dez segundos atrás do mexicano da Brabham, e uma volta atrás de Watson, chegou o sueco.

Pouco? O feito do ex-baterista da Escandinávia foi notável. Slim Borgudd marcou seu primeiro e único ponto na carreira naquela ocasião. Foi também a primeira vez que a ATS pontuou desde o quinto lugar de Hans-Joachim Stuck no GP dos Estados Unidos-Leste de 1979, disputado em Watkins Glen. E mais: foi a primeira vez que um piloto que correu com a fornecedora de pneus Avon pontuou numa etapa do Mundial de Fórmula 1.

O sueco fez história ao ser o primeiro piloto a pontuar com pneus Avon

Slim fez história ao ser o 1º a pontuar com pneus Avon

Assim como num palco musical, o brilho do baterista é pouco notado. Como bom músico, Slim deixou o circuito inglês satisfeito com o show. Sabia que tinha cumprido à risca com seu dever. Ainda mais a bordo de um ATS. Pena que, no terrível cockpit desta escuderia, o show de Borgudd não pôde continuar…

Sobre contosdaf1

Desde 1981, um amante de automobilismo. E veio desde o registro, quando no cartório seu pai foi questionado se queria colocar o nome "Willians" no garoto. "Esse é o nome de uma escuderia. Pode dar problema para ele no futuro", disse a escrivã. Hoje em dia, a equipe Williams voltou a se destacar, enquanto o menino segue o destino. Jornalista, nascido em Santos, cobriu os GPs do Brasil de 2005 a 2009 em Interlagos pelo jornal A Tribuna. Acompanha a Fórmula 1 religiosamente desde 1986. Pretende fazer isso até seus últimos dias. Afinal, o faz desde o primeiro.
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