Europa-1993: a sublime 1ª volta de Barrichello em Donington

Barrichello à frente de Schumacher: de 12º para 4º na primeira volta do GP da Europa de 1993

Barrichello lidera Schumacher: de 12º para 4º na 1ª volta do GP da Europa de 1993

Parafraseando o jingle promocional do célebre filme “Gilda”, nunca houve uma primeira volta na Fórmula 1 como a feita por Rubens Barrichello no GP da Europa de 1993. Disputado em 11 de abril daquele ano, em Donington Park, na Inglaterra, a corrida tratou de eternizar os movimentos de Ayrton Senna pelos primeiros 4.023 metros da prova, em que o brasileiro da McLaren-Ford saltou do quinto para o primeiro lugar num desafiante piso molhado. Um feito condizente com a carreira do legendário piloto, é fato. Todavia, o compatriota do tricampeão fez mais. Em apenas uma volta, o piloto da Jordan-Hart pulou de 12º para uma espetacular quarta posição.

É bem verdade que a volta de Senna foi exaltada porque o tricampeão era um dos protagonistas da categoria à época. Logo, todas as câmeras da transmissão de TV estavam voltadas para Ayrton. Rubens, por sua vez, era um iniciante – estava largando para sua terceira corrida na Fórmula 1. O piloto da Jordan só foi notado quando já alcançava o quarto lugar. Mas bem rapidamente – os holofotes estavam na McLaren de número 8, que rumava para a ponta da prova.

Quando foi visto na volta 1, Barrichello superava Michael Schumacher, da Benetton-Ford. Coincidentemente, o alemão foi um dos pilotos ultrapassados por Senna nos primeiros instantes da disputa de Donington (os outros foram Karl Wendlinger, da Sauber, e Damon Hill e Alain Prost, ambos da Williams-Renault).

Na pista molhada, Rubens se destacou à frente de Schumacher e Alesi

Na pista molhada, Rubens se destacou à frente de Alesi e Schumacher

Antes de ultrapassar Schumacher, porém, Rubens passou por uma verdadeira epopeia na volta 1 de Donington. Em 12º no grid, ganhou uma posição antes da largada – JJ Lehto, da Sauber, enfrentou problemas e partiu dos boxes. Na pista, o brasileiro começou a brilhar ao superar Johnny Herbert, da Lotus-Ford, e Riccardo Patrese, da Benetton, antes da primeira curva. Em nono, o próximo passo de Barrichello foi se livrar de Gerhard Berger, da Ferrari. No mesmo momento em que Senna ignorava Wendlinger e assumia o terceiro lugar, o piloto da Jordan aparecia em oitavo. Outro ferrarista seria a vítima seguinte de Rubens: Jean Alesi. O francês foi ultrapassado pelo brasileiro sem maiores problemas.

Enquanto Barrichello era sétimo, Senna passava por Hill e se via em segundo. Mas Ayrton não sofreu o susto que Rubens teve na metade da primeira volta. Logo à sua frente, Wendlinger e Michael Andretti, da McLaren, se engalfinharam e foram parar na brita. O piloto da Jordan saiu ileso do incidente. A quinta posição caiu em seu colo. Imediatamente na sequência, Schumacher cometeu um erro e permitiu a aproximação do brasileiro de 20 anos. O bote foi imediato: Barrichello estava em quarto. Senna, por sua vez, ainda era segundo – deixou para ultrapassar Prost na freada do hairpin.

No hairpin, Barrichello dá uma volta sobre seu companheiro Thierry Boutsen

No hairpin, Barrichello dá uma volta sobre seu companheiro Thierry Boutsen

No início da volta 2, Senna liderava, seguido por Prost, Hill e Barrichello. Numa apresentação impressionante na chuva, Rubens pressionava os pilotos da Williams. A partir daí, o resto foi história. Ayrton fez um voo solo, dando um espetáculo à parte. O piloto da Jordan, após andar em segundo, garantia uma incrível terceira posição à frente de Prost. Mas a cinco voltas do final, a bomba de combustível do carro do brasileiro entrou em colapso*, obrigando Barrichello a abandonar – e perder um pódio certo.

(*Nota: Tempos depois desta publicação, o piloto brasileiro admitiu que seu abandono ocorreu devido a uma pane seca. Sem combustível, não havia como a bomba funcionar.)

Rubens ficou no quase pela primeira vez na mais longa carreira já vista na história da Fórmula 1. Sua quebra beneficiou Herbert, que subiu para o quarto lugar (repetindo o feito da etapa anterior, em Interlagos), e Fabrizio Barbazza, da Minardi, que conquistou seu primeiro ponto na carreira com a sexta posição. Ainda assim, o desempenho de Barrichello foi célebre. Tanto que a sua primeira volta de Donington foi uma das mais marcantes da categoria. As imagens pouco contam, mas quem vivenciou, jamais esquece.

Sobre contosdaf1

Desde 1981, um amante de automobilismo. E veio desde o registro, quando no cartório seu pai foi questionado se queria colocar o nome "Willians" no garoto. "Esse é o nome de uma escuderia. Pode dar problema para ele no futuro", disse a escrivã. Hoje em dia, a equipe Williams voltou a se destacar, enquanto o menino segue o destino. Jornalista, nascido em Santos, cobriu os GPs do Brasil de 2005 a 2009 em Interlagos pelo jornal A Tribuna. Acompanha a Fórmula 1 religiosamente desde 1986. Pretende fazer isso até seus últimos dias. Afinal, o faz desde o primeiro.
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9 respostas a Europa-1993: a sublime 1ª volta de Barrichello em Donington

  1. Fernanda de Lima diz:

    Republicou isso em Fernanda de Limae comentado:
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  2. Que dia pros pilotos brasileiros esse, Senna se consagrando como Rei da Chuva na história e Barrichello mostrando seu talento pro mundo da F1! Com a tecnologia de filmagem hoje provavelmente veríamos o onboard dessa volta do Rubinho!

  3. Tico diz:

    Desculpe, sem ufanismo ou idolatria patológica, mas não dá para comparar o desempenho de Barrica com o feito assombroso de Senna. Não desmerecendo o arrojo de Rubinho, mas ele herdou algumas posições em função de péssimas largadas, erros e acidentes entre disputas na sua frente (ele não ultrapassou o alemão num duelo na pista como está subentendido no texto, pois o piloto da Benetton cometeu um erro primário). Ao contrário de Senna, que só não foi ainda mais impressionante nessa ocasião, ultrapassando carros rápidos na pista, porque não havia mais adversários a sua frente. Rubinho já disse algumas vezes que viu Ayrton pelo retrovisor, achando que estava na sua frente e que poderia duelar com o Chefe, até ser informado de que estava levando uma volta do líder (que deu volta em todos, exceto em Hill, segundo colocado). Por essas e outras (pelo circuito ser considerado ruim em questão de ultrapassagens, por Senna dar aula de pilotagem em carros discrepantemente superiores da Williams, com seu maior rival guiando um carro imbatível, pelo conjunto das circunstâncias e pelo contexto da época, enfim) que a volta de Ayrton é considerada a maior de todos os tempos, e não a de Barrichello.

  4. Claudio Vitorino diz:

    O Rubinho foi grande piloto,,acertador, determinado.merece um lugar de destaque na F1, e a sua volta em DONINGTON , foi estonteante, teve quebras, largadas mal dadas, isso faz parte, quem tiver mais o fator sorte a seu lado tambem e necessario, ele teve nessa volta, e segundo quem acompanha F1 – essa volta nao consideremos a do SENNA,,que foi pela ponta,,cameras voltadas a ele..enfim o cara…O º saindo de 12º e chegando em 4º no final da primeira volta foi deslumbrante,,e somente nao chegou ao podium porque acabou o fuel,,e isso foi na sua terceira corrida..o restante voces ja sabem,,

  5. DEATH ADDER diz:

    A mídia enganava o povo, fazia comercial com chinelo etc hoje em dia vendo as corridas dos anos 90 pelo youtube eu vejo que Barrichelo foi melhor que muitos campeões mundiais porque ele sabia correr na chuva, andava na frente com carro ruim etc Poderia ser campeão na McLaren ou Williams, mas dificilmente na Ferrari uma vez que Schumacher reviveu a equipe e tava tudo no contrato, entrou no lugar do Irvine porque Irvine ja tava reclamando.

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