Brasil-1989: Gugelmin, o salvador da pátria em Jacarepaguá

Mauricio Gugelmin foi o protagonista brasileiro no GP do Brasil de 1989

Mauricio Gugelmin conquistou seu único pódio ao ser terceiro no GP do Brasil de 1989

Em 26 de março de 1989, Jacarepaguá recebia aquele que seria seu último GP do Brasil. Além da concorrência de Interlagos, que reformulava seu traçado para receber a prova em 1990, o circuito do Rio de Janeiro sofreria um grande golpe dias antes da abertura da temporada daquele ano – o francês Phillipe Streiff (AGS) se acidentou com gravidade durante os testes de pneus no circuito carioca. A imagem da etapa carioca foi manchada por conta do atendimento precário dado a Streiff, que ficou paraplégico. Muitos consideraram que a equipe médica que retirou Phillipe do carro comprometeu o estado de saúde do piloto.

Foi diante de muitas críticas que o Autódromo Internacional Nelson Piquet abriu suas portas para sediar a primeira etapa do campeonato. No Rio, Mauricio Gugelmin iniciaria sua segunda temporada na Fórmula 1. Em 1988, realizou sua estreia na March, com destaque para o quarto lugar obtido no GP da Inglaterra, em Silverstone, e para a quinta posição no GP da Hungria, em Hungaroring.

Após uma boa temporada de estreia, Mauricio planejava voos mais altos em 1989

Após uma boa temporada de estreia, Mauricio planejava voos mais altos em 1989

Com mais experiência e contando com um carro bem desenhado – o 881 da March foi projetado por um certo Adrian Newey, engenheiro que se tornaria campeoníssimo pela Williams, McLaren e Red Bull -, Gugelmin planejou voos maiores para 1989. O sonho de Mauricio era alcançar o pódio, algo que seu companheiro de equipe, o italiano Ivan Capelli, obteve duas vezes no ano anterior – foi terceiro na Bélgica, em Spa, e segundo em Portugal, no Estoril.

O carro da March tinha um calcanhar de Aquiles: o fraco motor Judd. Apesar disso, em pistas seletivas como Jacarepaguá, o bólido desenhado por Newey tinha bom desempenho. Por conta disso, as expectativas eram boas para Gugelmin e Capelli. Nos treinos, o italiano impressionou ao obter o sétimo lugar no grid, atrás apenas dos pilotos da McLaren (Ayrton Senna e Alain Prost), Ferrari (Gerhard Berger e Nigel Mansell) e Williams (Riccardo Patrese e Thierry Boutsen). Ivan ficou à frente dos pilotos da Benetton (Alessandro Nannini e Johnny Herbert) e de Nelson Piquet (Lotus).

Berger, Senna e Patrese na curva 1, antes do acidente: confusão ajudou Gugelmin

Berger, Senna e Patrese na curva 1, antes do acidente: confusão ajudou Gugelmin

A façanha de Capelli foi compartilhada com o regular treino de Gugelmin. O brasileiro ficou na 12ª posição do grid. Logo, a March tinha consciência de que era possível beliscar pontos no GP do Brasil. “Corríamos com o modelo de 1988, que, se não era novo, ao menos estava muito bem testado. Eu tinha um carro equilibrado, mas bem limitado, principalmente em termos de motor. Marcar pontos era uma possibilidade real, e eu pensava nisso”, afirmou Gugelmin, em entrevista concedida ao site Globoesporte.com em 2009.

A pretensão aumentou após a confusão que veio depois do sinal verde: depois da largada, logo na Curva 1, Senna, Berger e Patrese se enroscam. O austríaco da Ferrari abandonou, enquanto o brasileiro da McLaren caiu para último, com três voltas de desvantagem. Já o italiano da Williams assumiu a ponta, seguido por Boutsen, Mansell, Prost e Capelli.

Com um bom ritmo, Gugelmin andou próximo de Mansell e Prost

Com um bom ritmo, Gugelmin andou próximo de Mansell e Prost

Gugelmin se aproveitou do incidente da primeira curva e apareceu na nona posição. Com o abandono de Boutsen, o brasileiro da March subiu para o oitavo lugar, colocação onde permaneceu até a volta 14, quando foram iniciadas as paradas de boxes. Mauricio foi aos boxes na volta 20, e retornou à pista na sétima posição – ele ganhou a posição após seu companheiro Capelli deixar o GP com problemas de suspensão.

Com o pit stop de Patrese e Nannini na volta 26, o brasileiro da March apareceu em quinto. Depois, foi a vez de Herbert ir aos boxes, na volta 34. Mauricio era o quarto. “Apertei o ritmo, fiquei um bom tempo andando entre o quarto e o sexto lugar, na balada dos caras da frente, e pensei que dava para ir além”, afirmou Gugelmin.

Mauricio se viu mais veloz que Prost, mas preferiu poupar seu March para ir ao pódio

Mauricio se viu mais veloz que Prost, mas preferiu poupar seu March para ir ao pódio

Após ir aos boxes na volta 39, Mauricio se viu consolidado no quarto lugar, atrás apenas de Mansell, Prost e Patrese. Com problemas no alternador de seu Williams, o italiano perde o rendimento e é superado por Gugelmin. O piloto da March era o terceiro. Melhor: Mansell e Prost estavam em sua alça de mira.

“Passei a ver que meu carro estava melhor em curva do que a McLaren. Andávamos bem nas tomadas de alta, e por duas vezes quase superei o Prost. Com um pouco mais de experiência, acho que teria conseguido. Mas a temperatura do óleo começou a subir demais e resolvi preservar aquele resultado, levando o carro até o final”, afirmou Mauricio, que ainda teve que domar o estreante Herbert para assegurar a terceira posição e o primeiro – e único – pódio na carreira.

Gugelmin celebra o terceiro lugar em Jacarepaguá: foi seu auge na Fórmula 1

Gugelmin celebra o terceiro lugar em Jacarepaguá: foi seu auge na Fórmula 1

“Subir ao pódio foi como uma vitória para mim. O Ayrton Senna e o Nelson Piquet tiveram problemas e, de repente, virei o “salvador da pátria”. Eu passava na reta e sentia o pessoal na arquibancada mexer, vibrar… é uma experiência que até hoje eu não esqueço”, revelou Mauricio. Mansell venceu com a pioneira Ferrari de câmbio semi-automático, seguido por Prost e Gugelmin. Herbert, Derek Warwick (Arrows) e Nannini completaram o top 6.

Sobre contosdaf1

Desde 1981, um amante de automobilismo. E veio desde o registro, quando no cartório seu pai foi questionado se queria colocar o nome "Willians" no garoto. "Esse é o nome de uma escuderia. Pode dar problema para ele no futuro", disse a escrivã. Hoje em dia, a equipe Williams voltou a se destacar, enquanto o menino segue o destino. Jornalista, nascido em Santos, cobriu os GPs do Brasil de 2005 a 2009 em Interlagos pelo jornal A Tribuna. Acompanha a Fórmula 1 religiosamente desde 1986. Pretende fazer isso até seus últimos dias. Afinal, o faz desde o primeiro.
Esta entrada foi publicada em Adrian Newey, AGS, Brasil, Derek Warwick, Ivan Capelli, Jacarepaguá, Johnny Herbert, March, Mauricio Gugelmin, Phillipe Streiff, Riccardo Patrese, Thierry Boutsen. ligação permanente.

2 respostas a Brasil-1989: Gugelmin, o salvador da pátria em Jacarepaguá

  1. Parabéns pelo post! Não conhecia essa história, bem bacana.
    Sempre ouvi que Gugelmin era um piloto promissor mas não sabia que ele tinha conquistado um pódio.

    • contosdaf1 diz:

      Mauricio era um cara que obteve bons resultados nas categorias de base do automobilismo, mas que não evoluiu na Fórmula 1. Para mim, o problema dele foi ter Capelli como companheiro. O italiano conquistou pódios e pontos importantes na March. Tanto que foi parar na Ferrari em 1992.

Deixe uma resposta para contosdaf1 Cancelar resposta